I. O
SIGNIFICADO DO TERMO.
“Tradição, literalmente transmissão (latim: traditio, tradere =
entregar). Em grego, na acepção religiosa do termo, a expressão é paradosis (παραδοσις).
Tradição mais precisamente é uma transmissão de fatos
antigos que passam, oralmente, de lendas ou narrativas ou de valores
espirituais de geração em geração. Uma crença de um povo, algo que é seguido
conservadoramente e com respeito através das gerações. Uma recordação, memória
ou costume.
A tradição quando não assume autoridade canônica
e infalível, muito ajuda na sedimentação cultural, histórica e orgânica da
comunidade cristã. No entanto, se colocada acima das Sagradas Escrituras,
cria-se uma religião farisaica. Quando a cultura, hábitos e os usos e costumes
são fixadas na igreja como doutrinas, regra de fé e meio de salvação, Jesus
chama de tradições ou doutrina de homens (conforme Mt 15.1-3, 8-9).
É a transmissão de ensinos, práticas, crenças de uma cultura de uma
geração a outra. A palavra grega para tradição é paradosis, usada no sentido negativo (Mt 15.2; Gl
1.14); e também no sentido positivo (2ª Ts 2.15).
Quando se coloca a tradição acima da
Bíblia ou
em pé de igualdade com ela a tradição assume uma conotação negativa. Muitas
vezes é usada simplesmente para camuflar nossos pecados. O problema dos
fariseus e de algumas igrejas é justamente por receber a tradição como Palavra
de Deus. Disse alguém: “Tradição é a fé viva dos que agora estão mortos, e
tradicionalismo é a fé morta dos que agora estão vivos”.
[...] A tradição e sua presença na sociedade baseiam-se em dois
pressupostos antropológicos: a) as pessoas são mortais; b) a necessidade de haver um nexo de conhecimento
entre as gerações.
Tem-se
por tradição no sentido amplo tudo aquilo que uma geração herda de seus ascentrais
e lega para sua geração futura.
Os
aspectos específicos da tradição devem ser vistos em seus contextos próprios:
tradição cultural, tradição religiosa, tradição familiar e outras formas de
perenizar conceitos, experiências e práticas entre as gerações.
No campo religioso é onde mais se aplica este conceito.
A tradição toma feições mais peculiares em cada crença. Pode-se destacar a
presença da tradição nos grandes grupos religiosos: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo“.
As
tradições são ensinos puramente humanos e glorifica o homem. As tradições podem
ser divididas em: Filosóficas e humanas.
II. AUTORIDADE DA ESCRITURA.
Com a reforma Protestante no século XVI, a Bíblia foi
exaltada como única regra de fé. O povo recebeu amplo esclarecimento religioso
e passou a enxergar os erros do cristianismo em geral.
Tentando encobrir seus erros, o clero estabeleceu a
pseudo-realidade da tradição em matéria de fé. Em suma, usurparam os direitos
da Bíblia e criaram um novo evangelho (Gl 1.8), trazendo sobre si mesmos a
condenação (Ap 22.18).
A igreja católica romana afirma que existe uma revelação
objetiva e sobrenatural. Porém, eles mantêm que esta revelação é parcialmente
escrita e parcialmente não escrita, isto é, a regra de fé inclui ambas, as
escrituras e a tradição.
Um dos maiores erros da igreja de Roma é o de fazer a igreja e não a
Bíblia como autoridade imediata e final em todas as questões de revelação
divina. A igreja de Roma julga que as decisões e regras são mais infalíveis e
mais autorizadas que a Palavra de Deus escrita e está comprovado por muitas
decisões e julgamentos seus. Ela argumenta que havia muitas coisas que Cristo e
os apóstolos ensinavam que não estão na Bíblia (Jo 20.30-31; 21.25)
registradas, mas estas, é afirmado, têm sido preservado pela igreja e são tão
obrigatórias como aqueles preceitos que estão escritos. Porém é a Bíblia quem
julga a Igreja e não a Igreja a Bíblia.
Os líderes da igreja Católica vão além
dos fariseus nos
dias de Jesus e dos apóstolos. Inclusive, os romanistas ensinam que as Escrituras
são tão obscuras que precisam de um intérprete visível, presente e infalível; e
que o povo, sendo incompetente para entendê-las, é obrigado a crer em quaisquer
doutrinas da igreja, mediante seus órgãos oficiais declararem que sejam
verdadeiras e divinas.
Independente do testemunho da tradição
e da razão, o crente verdadeiro tem na
Bíblia o seu guia e juiz infalível. Para ele as declarações da Bíblia são
finais. Ele crê que a Bíblia registra as intenções e a vontade de Deus, por
isto pode crer nela. Ele aceita o testemunho da tradição e da razão, mas
enquanto estas não entram em conflito com a Escritura. Para ele o que importa
é: “O que diz a Escritura sobre isto?”
A diferença básica entre o crente que prioriza a sua crença na
Bíblia como a autoridade maior em questão de religião, fé e doutrina, e aqueles
que confiam primeiramente na tradição e na razão, é que o crente está sob a
autoridade da Escritura, a qual ele aceita como a única e inspirada Palavra de
Deus.
O capítulo 7 de Mateus a Bíblia registra que Jesus ensinava
como quem tem autoridade. Mas, em que se baseava a autoridade de Jesus? Como
saber que Ele é verdadeiramente o Cristo como Ele declara ser? Em resposta a
estas questões desafiadoras, Jesus dizia: “Se alguém quiser fazer a vontade
d’Ele (de Deus), conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se falo
por mim mesmo” (Jo 7.17). A disposição de fazer a vontade de Deus é prioritária
aqui. Neste caso o fazer vem antes do saber. A entrega pessoal à Cristo vem
antes da aquisição do conhecimento. A propósito disto, há mais de mil e
quinhentos anos, Agostinho disse: “Creio, logo sei”.
A autoridade tem a ver com a vontade, com a obediência e com o fazer.
A inspiração relaciona-se com o intelecto, o entendimento com o conhecimento. A
questão da inspiração deve seguir-se à autoridade. Somente depois de você fazer
o que Cristo lhe manda que faça é que você ficará sabendo que Ele é o Cristo;
assim também, só depois de submeter-se à autoridade da Bíblia e obedecer-lhe, é
que você saberá que ela é a inspirada Palavra de Deus.
III. A TRADIÇÃO SEM DÚVIDA É OUTRO EVANGELHO.
“Mas,
ainda nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já
vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl 1.8).
Neste texto o apóstolo Paulo deixa claro que a igreja
primitiva já enfrentava os mesmos problemas com falsos obreiros, ou seja, com
pregadores do outro evangelho. Há um conflito entre a luz (verdade) e as trevas
(mentira) as trevas são representada por pessoas e grupos religiosos que têm
nome de que vive, mas, entretanto estão mortas. São pseudo-servos de Cristo,
que pregam uma doutrina estranha a aquela que o Senhor Jesus trouxe do céu.
[...] Cipriano, no terceiro século, disse: “A
tradição sem a verdade é um erro envelhecido”. Tertuliano firmou: Cristo se
intitulou a “Verdade”, mas não a tradição. Os hereges se vencem com a verdade e
não com novidades” [OLIVEIRA
Raimundo de. SEITAS E HERESIAS. EETAD. 2ª Edição. P.26].
Temos como mandamento amar aqueles irmãos em Cristo
que estão sob uma tradição, mas não invalidarmos as verdades bíblicas, pois com
certezas os que seguem uma tradição estão fora da verdade. Na carta do apóstolo
João ele diz: “O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo
na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade. Por
causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre. A graça, a
misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai,
serão conosco em verdade e amor” (2ª João 1.1-3).
O reformador Marinho Lutero concorda com o apóstolo João ao
declarar que “era maldita a união que sacrificasse a verdade”. Muitas igrejas
cristãs têm as mesmas doutrinas, porém as tradições dos homens descaracterizam
de uma igreja verdadeira e pura.
Não há tradição bíblica, pura e imutável. O que nos
orienta é uma expressão tradicional modificada por força histórica e cultural,
por líderes, pela expressão do povo, pelo caráter e gostos nacionais. Se
identificarmos as doutrinas dos homens com nossa tradição, estaremos sujeitos
ao perigo de navegar pelo oceano, ou voar sobre nuvens, sem bússola. Na
proporção que a tradição engole a fé independentemente da palavra autorizada de
Deus, ela sofrerá modificações. Estas modificações, por sua vez, impedem o
crescimento da verdadeira santidade. Esta concepção legalista anula a Graça,
anula o sacrifício de Cristo, anula a redenção proporcionada pela morte de
Jesus na cruz. Neste ponto poderíamos traçar um paralelo (ainda que bastante
impreciso) com a ação dos judaizantes na Igreja Primitiva, combatida
enfaticamente pelo Apóstolo Paulo, na epístola aos Gálatas:
“Mas
se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados
pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado? Certo que não.
Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, a mim mesmo me constituo
transgressor. Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de
viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Não anulo a graça
de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em
vão” (Gl 2.16-21).
Desta forma, anula-se a fé cristã. Este é o
argumento que invalida as considerações de quem avalia a religiosidade como um
caminho válido para Deus, legítimo e até melhor do que a fé cristã.
O perigo do tradicionalismo sempre será o de fomentar
confiança na “lei” e não em Cristo, mesmo pessoas que afirmam que a salvação
não vem pelas obras da lei, estão sujeitas as mesmas tentações em que os
fariseus caíram.
Pr. Elias Ribas
FONTE
DE PESQUISA
1.Tradição- Wikipédia,
a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tradi%C3%A7%C3%A3o –
2. EZEQUIAS SOARES. Manual do
Obreiro, ano 22 – nº 11 - 2000. P. 53. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
3. OLIVEIRA Raimundo de. SEITAS
E HERESIAS. 23ª edição/2002. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
4. OLIVEIRA Raimundo de. SEITAS E
HERESIAS. EETAD. 2ª Edição. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
5. RAIMUNDO OLIVEIRA, Lições
Bíblicas, 1º Trimestre de 1986, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
6. CLAUDIONOR CORRÊA DE ANDRADE.
Dicionário Teológico, p. 286, 8ª Edição, Ed. CPAD, Rio de janeiro, RJ.
7. FRANCISCO DA SILVEIRA BUENO,
Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 11 ª Edição, FAE, Rio de Janeiro RJ.
8. SÉRIE APOLOGÉTICA, ICP, Volumes I
ao VI, Instituto Cristã de Pesquisa, Site, www.icp.com.br