HABEMUS PROBLEMAS
Igreja Católica brasileira enfrenta o
crescimento evangélico e o desgaste de tradições.
O Brasil que acaba
de receber o papa Francisco e uma multidão de católicos que acorreram de várias
partes do mundo para a Jornada Mundial da Juventude, realizada no fim do mês
passado no Rio de Janeiro, já é um país bem diferente daquele que outro líder católico,
João Paulo II, visitou em 1980. Neste curto intervalo histórico de três
décadas, a maior nação em número de fiéis declarados da Igreja Romana teve seu
perfil religioso significativamente alterado. Agora, na segunda década do
século 21, já é muito comum encontrar gente como o analista de suporte técnico
José Thadeu Hoffman, mineiro de 33 anos. Mesmo oriundo de uma linhagem com
forte tradição religiosa – seu avô foi curador de templos católicos; o pai,
catequista, e duas tias tornaram-se freiras –, hoje ele é evangélico. Do
passado, ele se lembra com carinho das missas que frequentava "com a
melhor roupa" e das vezes em que, menino, atuou como coroinha, auxiliando
o vigário nas celebrações. E só. "Percebi que muita coisa que vi e aprendi
ali não tem qualquer base bíblica. Encontrei a verdade da Palavra de
Deus", afirma ele, que já foi devoto de São José e pensou seriamente em
virar padre.
"Um dia, ouvi uma mensagem evangélica sobre o engano da adoração aos
santos e de Maria como mãe de Deus", conta. "Hoje, respeito a fé dos
católicos, mas não a compartilho. Encontrei em Jesus, e somente nele, o caminho
da salvação". Desde então, José Hoffman frequenta o Ministério Cristo, Luz
do Mundo, igreja pentecostal localizada na região metropolitana de Belo Horizonte.
Experiências como a dele explicam, em grande parte, um fenômeno religioso
recente e sem paralelo na história do país: o declínio numérico do catolicismo,
que ocorre simultaneamente ao avanço das igrejas evangélicas. No intervalo de
uma geração, a Igreja Católica Apostólica Romana encolheu quase 25 pontos
percentuais. Já os evangélicos avançaram mais de sessenta por cento em apenas
dez anos. Por isso mesmo, o Vaticano vem adotando várias medidas para
fortalecer sua fé entre os brasileiros nos últimos anos. A visita de Jorge
Mario Bergoglio ao país foi a primeira viagem oficial de seu pontificado – e a
quinta presença papal no país. Nove bispos brasileiros tornaram-se cardeais e
religiosos que nasceram ou viveram no país foram canonizados: o padre José de Anchieta,
considerado beato desde 1980; madre Paulina, a primeira santa brasileira,
sagrada em 2002; e frei Antônio de Sant'Ana Galvão, santificado em 2007 pelo
papa Bento XVI.
É impossível mensurar os resultados, a curto e médio prazos, da passagem de Francisco
pelo país. Convém lembrar que outro episódio do gênero com grande repercussão
nacional, a participação de João Paulo II no Encontro Mundial com as Famílias –
realizado em 1997, também no Rio –, não alterou a tendência de encolhimento.
Naquela época, o processo de evasão era ainda mais acelerado, com a estimativa
de 600 mil fiéis católicos batizados deixando a Igreja a cada ano. Mas a
passagem do simpático Bergoglio pela Terra brasilis foi avaliada como altamente
positiva: "Ele gerou muita esperança na Igreja Católica. Mas é difícil
quantificar essa mudança no aumento do número de fiéis", sintetiza o
cardeal Raymundo Damasceno, presidente da Convenção Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) e arcebispo de Aparecida, cidade paulista que abriga o maior santuário
católico do país. Em entrevista à Agência France Presse, o religioso confirmou
que o crescimento dos evangélicos impulsionou um despertar da Igreja Católica.
"Talvez nós tenhamos nos acomodado, e pode ser que o crescimento do
movimento neopentecostal tenha nos feito acordar para a nossa verdadeira
missão".
Há outra situação, esta apontada pelo padre Pedro Gomes, professor da
Universidade do Vale do Rio Sinos, no Rio Grande do Sul. "Os católicos
brasileiros, ultimamente, estavam com a autoestima baixa, em muito por causa
dos grandes escândalos". Embora os ruidosos casos de pedofilia no clero e
desvio de recursos tenham ocorrido no exterior – como a recente descoberta de
um esquema milionário de lavagem de dinheiro no Banco do Vaticano –, é evidente
que repercutiram e causaram descrédito à Igreja também por aqui.
IDENTIDADE SOCIAL
Consolidada no país, a fé católica é mais do que apenas uma tradição religiosa.
Ela influenciou a cultura, interferiu na política, inspirou leis e estabeleceu
a ética ao longo de centenas de anos. Nos séculos 16 e 17, enquanto a Reforma
Protestante promovia profundas transformações religiosas na Europa, o país viu
nascerem em seu território duas colônias reformadas, a França Antártica e a
Nova Holanda, surgidas a partir das invasões militares, respectivamente, de
franceses e holandeses. Duramente combatidas com apoio da Igreja, então na
linha de frente da temida Inquisição, as duas iniciativas duraram pouco. Embora
já não seja a religião do Estado há 122 anos, desde a primeira Constituição
republicana, o catolicismo jamais abriu mão de seu caráter "oficial".
"É muito difícil, para um católico, admitir a legitimidade espiritual de
outras igrejas cristãs", observa o pastor batista Paulo Roberto Inácio,
que além de exercer o ministério como pregador leciona História na rede
particular de ensino em Campinas (SP). "Desde cedo, no catecismo, ele
aprende que, fora da Santa Igreja Católica Apostólica Romana e de seus dogmas e
ritos, não há salvação". Para Inácio, a mudança do cenário religioso no
Brasil é, na maioria das vezes, ignorada pela liderança católica. "Bispos
e cardeais agem de maneira monolítica, como se as demais correntes cristãs no
país não passassem de grupos sectários. É uma mentalidade de quem se acostumou
a pensar em termos de exclusividade."
"Em uma sociedade que era católica por pressão social, é natural que, com
o aumento do pluralismo e da liberdade cultural e religiosa, haja a diminuição
do número da igreja hegemônica", raciocina o teólogo Jung Mo Sung, diretor
da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo.
"Isso aconteceu também em países de maioria protestante, como os da Europa
ocidental, que viram o número de seus fiéis diminuírem drasticamente",
compara. Ele lembra que a relação entre católicos e evangélicos, no Brasil, já
enfrentou momentos difíceis, sobretudo na primeira República. "Havia
intolerância e um comportamento hegemônico por parte dos católicos,
fortalecidos por um panorama político amplamente favorável à manutenção daquele
status quo". Com o tempo, prossegue, isso foi mudando – "E um dos
aspectos mais importantes desse processo foi o crescimento do segmento
evangélico e a conquista de visibilidade midiática, comportamental e econômica
pelos crentes".
Para ele, embora o declínio percentual do catolicismo tenha sido mais acentuado
nos papados de Karol Wojtyla e Joseph Ratzinger, o fenômeno não pode ser
atribuído à maneira como eles conduziram a Igreja. "Em termos
sociológicos, há também um aspecto importante", destaca. "Hoje em
dia, o pertencimento a determinada igreja não é o fator fundamental da
identidade social. Isto é, no passado, a maioria identificava ser brasileiro
com ser católico e acabava se opondo ao surgimento de novas igrejas cristãs.
Hoje em dia, a denominação da igreja não tem mais esse papel tão importante na
identidade social."
COMPETITIVIDADE
"A recente eleição do papa Francisco, por seu perfil de sacerdote
franciscano e teólogo latino-americano que possui sensibilidade em relação aos
pobres, e sua prática histórica de aproximação dialética com as igrejas
protestantes, gerou inequívoco clima geral de otimismo no que tange às
possibilidades de diálogo e aproximação". A análise é do pastor metodista
Luís Wesley de Souza, com pós-doutorado em Teologia Prática e Práxis Religiosa
e mestre em Missiologia. Considerado amigo dos protestantes em seu país, o
pontífice tem bom trânsito entre lideranças evangélicas portenhas e, no tempo
em que era arcebispo de Buenos Aires, costumava participar de eventos comuns,
inclusive reuniões de oração e estudos bíblicos. Bergoglio também já esteve em
encontros do Movimento Lausanne na Europa, junto com líderes evangélicos e
reformados.
Por tudo isso, Wesley pensa que Francisco representa certo "desejo
maniqueísta" do cristão protestante. "É como se dissessem: 'Ele
parece mais simpático, mais próximo e mais parecido com a gente'" –
embora, no nível popular, pondera, não fica clara a projeção desse otimismo.
"Entre lideranças eclesiásticas, há maior intencionalidade no que tange a
procurar caminhos de cooperação. De qualquer forma, hoje a palavra de ordem é
'reconciliação', que se repete tanto em congressos protestantes como em
católicos. Discussões ecumênicas são uma constante e se firmam na esperança de
se ter sinais mais concretos de uma desejada reconciliação, não necessariamente
doutrinária. Tais diálogos ecumênicos ganham certa medida de efetividade,
embora sem garantia de sucesso de longo prazo".
Para o pastor, as
conversações ainda prometem ser longas, difíceis e sem garantias de sucesso –
"O que não pode ser usado como justificativa para a desistência",
pondera.
Vivendo e trabalhando nos Estados Unidos, onde leciona na Emory University, em
Atlanta, Luis Wesley explica que, lá, o relacionamento entre os dois grupos
religiosos é diferente daquele observado por aqui. "O fator
maioria-minoria, nos EUA, é o oposto do que ocorre no Brasil, onde a dinâmica
relacional ganha claras nuances de tensão que acabam por se traduzir em
rejeição e alta competitividade". Ele lembra as histórias relativamente
recentes de perseguição religiosa aos protestantes no Brasil, o controle
religioso do Estado e da sociedade, o preconceito e, sobretudo, as diferenças
doutrinárias e de simbolismo. "Entre os brasileiros, no nível mais
popular, quando protestantes e católicos pensam uns nos outros, ainda se
projetam como rivais religiosos. Porém, essa relação na América do Norte, de
esmagadora maioria protestante – a exemplo do que ocorre em outras partes do
mundo –, é extremamente mais tolerante do que no Brasil. É, portanto, menos
conflituosa e de natureza doutrinária, não política".
Porém, Wesley reconhece que muitas questões não resolvidas, como as enormes
diferenças de teologia e doutrina, permanecerão como impasse – "A menos
que haja um mal ou um bem muito maior que deva ser valorizado e force os dois
segmentos do Cristianismo à unidade", especula. Entre os pontos de
discórdia, o pastor destaca a crença católica na transubstanciação, na
ressurreição corpórea de Maria, nas legiões de santos intercessores e outros,
além do papado e da própria Reforma. "Por essas razões, penso que, se há
qualquer futuro promissor no esforço de aproximação, este será no campo da
teologia prática e da ação missionária, isto é, através da identificação de uma
variedade de áreas em torno das quais se pode somar esforços comuns e agir em
conjunto."
Embora a palavra "ecumenismo" costume causar arrepios nos crentes, o
sociólogo e doutor em Ciências da Religião Gedeon Freire de Alencar, diretor do
Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, destaca a existência da Comissão
de Diálogo Católico-Pentecostal, promovida pelo Vaticano: "O organismo tem
até a presença de pastores da Assembleia de Deus americanos, mas isso é
desconhecido no Brasil". Segundo ele, também na América Latina ocorrem
diálogos ecumênicos envolvendo líderes pentecostais e clérigos católicos.
"O pentecostalismo brasileiro é quase totalmente anti-ecumênico, mas isso
é uma característica típica do país", destaca o estudioso, que é
presbítero da Igreja Betesda.
O abismo, no Brasil, tende a se manter. "Violência é quase intrínseca à
religião – às vezes de forma concreta; outras, simbólica", continua.
"Outrora hegemônico, o catolicismo se sentia livre para fazer o que bem
queria. Agora, outros grupos, ricos e poderosos, querem repetir o modelo".
Segundo Alencar, a aproximação, quando existe no Brasil, é como um abraço de
afogados. "Acuados pela pressão social e pelas demandas modernas, como
direitos reprodutivos e novas formas de sexualidade, católicos e evangélicos
fazem acordos táticos e somente se unem em defesa do moralismo", critica.
RENOVAÇÃO X
CONSERVADORISMO
Estão, de fato, ultrapassados os tempos em que a Igreja Católica brasileira
assumiu uma face marcadamente progressista – revolucionária, até. Sacerdotes
como Leonardo Boff e Frei Betto tiveram papel de destaque na implantação da
teologia da libertação, de caráter esquerdista, no país, e justamente no
período do regime militar. Em um mundo polarizado entre capitalistas e
comunistas, o papa João Paulo II, conservador de carteirinha, era inimigo
declarado do socialismo. O pontífice teve papel ideológico destacado na
derrocada dos regimes do Leste europeu, inclusive na sua Polônia natal.
Duramente sufocada pelo Vaticano, o movimento da libertação perdeu força em
toda a América Latina. Censurado por seus superiores eclesiásticos no Vaticano,
como o então cardeal Ratzinger, Boff acabou desligando-se do sacerdócio.
Ao mesmo tempo, uma mudança perceptível acontecia no seio do catolicismo
brasileiro. Passado o tempo das missas rezadas em latim e dos sacerdotes
distantes dos fiéis, sempre enclausurados nas sacristias, outro tipo de clérigo
ganhou espaço. Religiosos da nova geração deixaram a batina para usar na igreja
e passaram a andar de jeans, camiseta e tênis de marca. Padres com perfil de
popstar, como Zezinho, Marcelo Rossi e Jorjão, começaram a celebrar missas
animadas, onde o povo participava ativamente cantando hits, levantando as mãos
e acompanhando orações proferidas em meio a lágrimas. A mudança de panorama
começou a se delinear a partir da eclosão da Renovação Carismática Católica
(RCC), movimento nascido nos EUA e que ganhou corpo por aqui a partir dos anos
1970. Com práticas litúrgicas despojadas, forte incentivo ao envolvimento dos
fiéis e linguagem atraente para o jovem, a RCC mudou a face da Igreja e já tem,
hoje, cerca de 10 milhões de seguidores.
É gente como a jovem Thaynara Bianco, de 19 anos.
Frequentadora
assídua da igreja, ela comunga regularmente e participa dos encontrões do grupo
jovem. "É uma bênção ser católico", declara a estudante de Direito,
que carrega um terço na mochila, junto com o iPod onde mantém gravadas músicas
de artistas como Dunga, Rosa de Saron e padre Fábio de Melo. Entre os planos
para a vida, ela segue o figurino família: "Quero me formar, casar e ter
meus filhos". Por enquanto, ela mora com os pais, também católicos, e
enxerga a fé por um viés bastante conectado ao dia a dia. "Ser católico
não nos torna diferentes de ninguém. O jovem cristão é normal, se diverte, vai
à balada. Apenas carrego a minha fé comigo para onde for". Thaynara diz
que é dever de todo católico levar a mensagem de amor de Cristo ao mundo.
"Só assim as coisas vão melhorar. No meio dessa loucura toda, tenho
encontrado na igreja uma segurança muito grande."
Uma crescente e bem montada estrutura de mídia se encarrega de levar a mensagem
católica adiante. São centenas de rádios e quatro redes de TV com abrangência
nacional, com destaque para a Canção Nova – instalada num complexo católico no
interior de São Paulo – e Rede Vida. Antes criticada pelos setores mais
tradicionais da Igreja Católica, a Renovação Carismática tem ganhado aceitação.
"Pela sua própria natureza, a Igreja é plural", analisa o padre
jesuíta Jesus Hortal, consultor da Comissão Pontifícia que trata do diálogo inter-religioso.
"Já o Vaticano II, na sua Constituição Sacrosanctum Concilium,
previa a adaptação da liturgia às idiossincrasias das diversas
comunidades". Mas ele observa que isso deve ser feito de modo a englobar
na unidade católica os diversos modos de expressão. "Aqueles que pretendem
adotar formas novas devem estar abertos a críticas, especialmente da
hierarquia, a fim de permanecerem dentro dos limites da comunhão católica. Mas,
também, todos os outros devem estar preparados para acolher as legítimas inovações,
sem condenações desnecessárias."
A Renovação Carismática, para o sociólogo Paul Freston, tem sido um dos
catalisadores da força católica. Inglês radicado no Brasil e estudioso da
conjuntura religiosa nacional, ele entende que a redescoberta da espiritualidade
por esse grupo tende a robustecer a Igreja. "Passamos a ter um núcleo
católico praticante de sua fé, diferente daquela maioria nominal que sempre
existiu", aponta o professor colaborador da Universidade Federal de São
Carlos (SP) e catedrático em Religião e Política em Contexto Global na Wilfrid
Laurier University, no Canadá. "A evasão de fiéis se deu e se dá,
basicamente, entre as pessoas com pouco vínculo com sua Igreja". Para
Freston, mesmo essa perda numérica das últimas décadas tende a ser compensada
em qualidade, neste sentido, pelo ingresso de novos fiéis, sobretudo jovens.
"Ou seja, ser católico passa a ser uma questão de escolha pessoal, e não
tanto mais por tradição familiar ou influência cultural."
O pesquisador não acredita que o número de evangélicos possa vir a superar o de
católicos, como alardeiam muitos pastores. "A tendência, nas próximas
décadas, é de haver uma acomodação. O catolicismo tem peso e tradição. O legado
de centenas de anos, além do comando central – ao contrário do pulverizado
movimento evangélico –, lhe conferem estabilidade". Por outro lado,
assevera, regras como a do celibato sacerdotal são um empecilho ao seu futuro.
"A capacidade de renovação do corpo sacerdotal esbarra nisso. Se a Igreja
amanhã deixasse a questão para escolha pessoal do religioso, isso teria um
efeito grande em novas vocações". Outra dificuldade, prossegue Freston, é
o clericalismo – "Muita funções são exclusivas dos sacerdotes, e as
instâncias decisórias, que têm poder de mudar as coisas, são conservadoras e
centralizadoras. A Igreja Católica é como um enorme porta-aviões, cujas
manobras são lentas e difíceis. Enquanto isso, as igrejas evangélicas têm a
agilidade de carrinhos", compara.
Embora envolva seus fiéis em reuniões de oração e estudos bíblicos – práticas
outrora tipicamente evangélicas –, a RCC está fortemente ligada a pilares
clássicos da fé romana rechaçados pelos crentes. Além disso, a corrente
representa pouca ou nenhuma ruptura com dogmas considerados anacrônicos em
plena pós-modernidade. "O catolicismo tem uma dificuldade enorme de
adaptar a sua mensagem às transformações sociais", aponta o pastor Paulo
Romeiro, especialista em apologética e integrante da Igreja Cristã da Trindade.
"Ela ainda combate o controle de natalidade por meios artificiais e não
abre espaço para as pessoas que se divorciaram."
Romeiro lembra que o catolicismo, no Brasil, adotou um perfil próprio, de forte
influência popular. "Muito do que se crê entre grande parte dos católicos
nada tem a ver com as doutrinas oficiais da Igreja e nem com a Bíblia Sagrada.
Há uma enorme quantidade de católicos aberta para todo tipo de crenças,
superstições e crendices". No país onde o sincretismo religioso é marca
registrada, figuras místicas como os padres Cícero Romão e Damião de Bozzano,
que marcaram época no interior do Nordeste, recebem intensa veneração popular,
embora não sejam reconhecidos pelo Vaticano. "Muitos católicos não têm
dificuldade de crer em reencarnação e abraçar muitas formas de simpatias e
superstições."
"INSTITUIÇÃO
NÃO SALVA"
Pastor da Convenção Batista Nacional e professor de Teologia do Novo Testamento
e História das Religiões no Seminário Teológico Evangélico Peniel, no Rio, Eber
Jamil entende que a teologia e práticas católicas são equivocadas quanto à
doutrina da salvação. "Para os católicos, Jesus não é o único mediador
para o homem se chegar a Deus. Os sacerdotes, os santos e Maria também são
intermediários, ou medianeiros, como eles chamam. Outra questão é que o
catolicismo prega a essencialidade dos sacramentos, e estes são ministrados por
sacerdotes. Portanto, a salvação é pela via sacerdotal".
Ex-católico praticante, o pastor Flávio Magalhães diz que conheceu a Cristo na
Igreja Romana. "Eu me converti genuinamente sendo católico. Não tenho
dúvida disso. É possível um católico adorar somente a Deus", afirma. Mais
tarde, contudo, afastou-se da Igreja Romana. A idolatria o incomodava. "Há
uma ordem expressa do Senhor nos Dez Mandamentos, de que só a ele devemos
render culto. Creio que o descumprimento desse princípio é suficiente para
comprometer a salvação de qualquer pessoa". Outro motivo que Flávio aponta
para seu rompimento é que a doutrina católica, em sua opinião, se assemelha ao
espiritismo na consulta aos mortos. "A simples reza da Ave Maria é uma
forma de comunicação com uma pessoa morta. Essa prática, segundo a Bíblia, é
abominável".
O pastor lembra um dos princípios da Reforma, que é o sacerdócio universal dos
crentes, para apontar o que considera outro erro. "A confissão de pecados
ao padre não chega a ser um pecado em si, pois a Bíblia nos recomenda
confessarmos nossas falhas uns aos outros. Porém, a partir do momento em que
isso se torna obrigatório, com o fiel se confessando exclusivamente ao padre,
se torna uma doutrina extra bíblica". Depois de um longo período na Igreja
Missionária Evangélica Maranata, na qual chegou a diácono, Flávio, que é casado
e tem dois filhos, foi ordenado ao ministério pastoral e agora lidera a Igreja
do Evangelho Simples, congregação instalada na zona norte do Rio de Janeiro.
Mas ele critica o pertencimento religioso meramente nominal, que na sua opinião
tem sido uma realidade tanto para evangélicos como para católicos. "Qual a
diferença entre o domingueiro que vai à missa e o domingueiro que vai ao culto?
Instituição não salva ninguém. Salvação não é questão meritória, mas sim,
obtida pela graça do Senhor.